segunda-feira, 31 de outubro de 2011

tímida vez

Saindo pela porta de casa pôde sentir o ar úmido e tão quente que sufocava, vira o céu se virar em nuvens e tempestade, mas mesmo assim caminhou sem saber pra onde ia, apenas sabendo onde queria chegar.
As gotas começavam a cair do céu, pouco a pouco encharcando cabelos e vestido. Andava mais calma do que nunca, porém trazia nos olhos a ânsia do encontro.
Chegou frente ao prédio, era madrugada e o porteiro adormecera, sorte a dela que subiu como um gato, silencioso e ligeiro, os sete andares.
Estava diante a porta quase à desistir, quando num impulso involuntário, bateu à porta. Ele abriu assustado, já era madrugada, e mais espantado ficou ao vê-la lá, desprotegida, entregue, sem seus muros tão fortemente erguidos e nunca ultrapassados, em um vestido de estampa de miúdas flores entregava a pureza nunca apreciada tão intimamente.
Antes que a surpresa passasse e ele a convidasse a entrar, ela se pendurou, como criança assustada, em seu pescoço donde parecia que não soltaria jamais. Envolvendo-a em seus braços carregou-a para dentro, lhe deu colo sem proferir palavra alguma, e foi quando, depois de horas ali, quietos e entrelaçados, os olhos se encontraram, os olhares não se largaram e os lábios se aproximaram.
A partir daí experimentariam o veneno do qual haveriam de depender para sobreviver.
Ele se encontrava onde jamais nenhum homem havia estado, acolhido e protegido entre as pernas dela. Na mistura do suor salgado e os lábios doces mantinham-se mergulhados entre os lençóis e o amor que há muito vinha sendo cultivado e como toda flor bem adubada, agora, desabrochara.


(Mariana Vasconi)

Um comentário:

  1. Ual. Adoro ler contos nessa hora da madrugada. Vale a pena se jogar no amor desse jeito. O inesperado acaba sendo mais gostoso do que o planejado. ;)

    ResponderExcluir