segunda-feira, 14 de maio de 2012

Espanhol


Um par de olhos castanhos, e tão intenso castanho que me arrastavam pra fora de mim. Seus cabelos bagunçados e negros atraiam minhas mãos, loucas por acariciá-los. Aquelas sobrancelhas fartas traziam um desenho másculo ao rosto. Todos aqueles traços de descendência espanhola, o sotaque e o jeito manso de falar me arrepiavam a espinha. Quis gritar não consegui, lhe neguei o beijo! Pergunto agora por que o fiz se morria de desejo...
Encontrei-o na rua um dia desses, e aqueles olhos eram os mesmo, tão profundos e desafiadores me engoliram, tentei acalmar minha alma para conversarmos, eu estava com saudades, há tempos não o via. Chamou-me para uma corrida no parque, disse-lhe que não estava vestida pra tal, porém fez questão de me levar em casa e esperar que me trocasse. Fomos, então, correr. Depois de cerca de 30 minutos eu já estava cansada, não sou a mais preparada atleta. Ele, educadamente, reparando meu despreparo, sugeriu que descansássemos - graças a Deus!. Sentamos debaixo de uma árvore, mas ainda assim estava muito quente, eu estava quase passando mal. Pediu-me se podia tirar a camisa já que estava muito suado e o sol castigava a cidade naquele dia, não neguei o pedido, disse que não havia problema algum, eramos amigos, e com amigos não se tem dessas coisas. Pois bem, ele a tirou, logo que vi aqueles ombros e sua clavícula estremeci. Uma gota de suor correu seu peito e eu, que havia acabado de levar a garrafa de água até a boca, literalmente babei, deixando um pouco de água escorrer pelo meu queixo, pescoço e colo. Ele, que não é bobo nem nada, reparou minha respiração, meu suspiro involuntário, foi se aproximando, perguntando se eu estava bem e antes que pudesse responder calou-me com um beijo, aquele beijo que agora não pude negar me entregando e deixando-me ser consumida e possuída pelos seus braços quentes.
Permanecemos ali, emaranhados um no outro até começar a anoitecer. Dando-me conta de que ficava tarde disse que ia embora, ele, como sempre muito amoroso fez questão de me acompanhar. Levantou-se firme, pegou minha mão, ergueu-me, e com seus dedos entrelaçados aos meus permaneceu o caminho todo.
Quando chegamos a porta da minha casa já eram quase oito e meia da noite, no céu a lua já reinava bela e ele não perdeu a chance de comparar-me com ela, mas ressaltava que eu era mais bela e tinha luz própria, ao contrario dela, eu me derreti, no entanto não cedi a tentação, despedi-me dele debaixo daquele tapete de estrelas com o beijo mais envolvente que eu tinha nas mangas, percebi que ele amoleceu e que deixei-o com vontade, entrei sem convidá-lo, tranquei a porta, ele ainda ali parado me olhava. O vi pegar o celular, em seguida recebi uma mensagem que dizia: "Te pego amanhã as 8h! Vamos ao cinema!". Não pude evitar o sorriso, subi correndo até meu quarto e despejei todo meu desejo, ainda não saciado, em meu caderninho com uma frase que expressava tudo o que eu ansiava aquela noite. "Querer meus  lábios em seu corpo, o seu toque em minha pele, seu hálito em minha nuca, minha mão agarrada a seus cabelos, meu prazer sussurrado em sue ouvido."
Certamente que sonhei com ele aquela noite, e os olhos, é claro, me atormentaram e consumiram meus pensamentos.